01/11/22 em Para ler
Um drama trágico, um livro imenso
Ao terminar de ler Em cada momento ainda estamos vivos, de Tom Malmquist (Grua Livros, 2019), pensei para mim mesmo: queria ter escrito este livro. Mais do que ter gostado de ler, eu gostaria de tê-lo escrito.
É um romance autobiográfico. O autor passou mal bocados e nos conta este drama, que chega a ser trágico, verdadeiramente trágico, de modo entremeado a lembranças boas, lembranças doces, pequenos momentos felizes aos quais usualmente não damos valor porque não percebemos que ali, enquanto eles transcorrem, a vida acontece.
Hábil, o autor escolhe contar sua auto-ficção no tempo presente, o que deixa o leitor apreensivo e em suspense, contrário ao que normalmente vemos nas narrativas em que, ao desvendar o passado, o escritor recebe do leitor uma alta dose de compreensão, como que se o leitor se colocasse continuamente na ação que o escritor viveu. Entretanto, neste livro de Malmquist, devido à sua escolha pelo tempo presente, é difícil colocar-se no lugar dele. Falta distanciamento temporal, é como se o narrador ainda não tivesse conseguido elaborar tudo o que viveu, porque a poeira não assentou. O narrador ainda não conseguiu deglutir os acontecimentos e dar a volta por cima, porque nos conta no turbilhão em que tudo se passou. Ler o livro é atravessar diversos momentos tristes, muito tristes, em que a morte está tão presente que é difícil acreditar que nestes mesmos momentos ainda estamos vivos.
E por que eu gostaria de ter escrito um livro que trata de um drama tão pesado para o próprio autor? Bom, primeiro porque todo mundo tem um drama, quando não tem mais de um. E porque é um livro vivo, com uma linguagem pulsante, contando uma história envolvente. E porque o título é um achado precioso!
À venda, nas boas casas do ramo.