01/13/22 em Para ler
Impeachment de Bolsonaro é ruim
O mandato presidencial de Jair Bolsonaro começou e terminou em 1/1/2019, quando, ao mesmo tempo em que ele tomava posse como o 38o. Presidente do Brasil, o sistema político já discutia as eleições de 2022. Neste cenário, até que demorou para a discussão sobre impeachment ficar sólida como ficou nesta semana. Porém, impedir o atual presidente talvez seja a pior solução que tenhamos e, na minha modestíssima opinião, creio que isso não acontecerá.
Não preciso repetir os despautérios e as idiotices que jorraram na chula verve presidencial durante estes 15 meses de mandato, pois todos os conhecem. Mas há um deles que eu gostaria de retomar, dito no seu pronunciamento do dia 24/3/2020: “Acredito em Deus, que capacitará cientistas e pesquisadores do Brasil e do mundo na cura desta doença”. Só os ignorantes colocam nas mãos de algum deus a capacitação dos cientistas, mas só os ignorantes mal intencionados pedem ajuda aos seus deuses depois de praticarem os malfeitos, cortando verbas de pesquisa, denegrindo cientistas e fazendo discursos rebaixando a importância da ciência. Foi isso que o Presidente Bolsonaro fez. E não só com a ciência, pois sua gestão é uma balbúrdia weintraubiana onde o que se diz hoje é desdito amanhã em nome do que se criticou ontem mas terá que ser feito semana que vem.
Li hoje uma entrevista do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL/RJ). O que se auto intitula campo progressista no Brasil tem sempre alguns delírios, e eles estão presentes nesta entrevista. Entretanto, Freixo me soou profundamente realista e sensato ao dizer: “Imagina se a gente para a votação de uma renda mínima ou uma política de recursos para hospitais de campanha para tratar de Bolsonaro e paralisar o país por seis meses? A vida das pessoas não pode esperar”. Exatamente – a vida das pessoas não pode esperar enquanto aqueles que têm a responsabilidade de tomar as decisões se entregam ao delicioso joguinho da política rastaquera de tirar um presidente do seu cargo. Porque é isso que os políticos mais gostam. Eles se candidatam, por livre vontade, para cargos que exigem responsabilidade em ações que impactam diretamente a vida das pessoas, mas abdicam dessa responsabilidade porque é mais fácil e mais prazeroso praticar a vilania da conspiração, do sussurro, da facada pelas costas e da puxa de tapete em salões climatizados com canapés e cafezinhos pagos com o dinheiro dos cidadãos.
Então, não acho adequado darmos esse prêmio aos políticos. O que temos que dar a eles é a cobrança diária pela sua inépcia, pela sua ignorância, pelo seu descaso com os votos que receberam. E antes que eu precise me retratar, já digo que sim, há exceções.
Além disso, eu não apostaria uma ficha que o sistema político brasileiro daria outro tiro no pé depois do que ele fez consigo mesmo em 2016. Se há uma característica essencial desse sistema é seu instinto de sobrevivência, com seu colossal poder de adaptabilidade. O impeachment de Dilma Rousseff foi uma tragédia de erros. Para o sistema político brasileiro, o principal deles foi acreditar que naquele momento o então Vice-Presidente, Michel Temer (parêntesis necessários: é uma vergonha ler este nome na lista de Presidentes do Brasil), tinha estofo suficiente para ocupar o poder que ficaria vago. Ele não tinha, como ficou provado meses depois, em março de 2017, com o vazamento do áudio do Joesley. Mas a real percepção de que o poder havia ficado vago apareceu quando as urnas eleitorais se abriram na noite de 7 de outubro de 2018. Ninguém esperava e todos custaram a acreditar nos coelhos que saíram daquele mato…
Hoje, um impeachment de Bolsonaro colocaria o Vice-Presidente Hamilton Mourão diretamente na cadeira presidencial. O general da reserva teria, com facilidade, o apoio de todo o Exército e das outras Forças Armadas, afinal é um deles de verdade – fez sua carreira, não planejou atentados, não sugeriu greves por melhores soldos, não foi convidado a dar baixa e não se tem conhecimento de que outro general o tenha considerado como um mau militar. Mourão teria, ainda, um apoio claro dos empresários, por trazer uma imagem de ordem e direção. Na cadeira, Mourão teria dois anos inteiros para usar a caneta e chegar a 2022 suficientemente cacifado para se reeleger ou ser um bom cabo eleitoral. Mourão daria as cartas. O sistema estaria entregando o poder de bandeja a ele.
Por fim, acho que precisamos pagar o preço das escolhas ruins. Este pode ser um argumento ruim, mas talvez seja bom. Sinceramente, não sei se é bom, mas sinceramente acho que não é ruim. Já dizia minha mãe, quando eu queria fazer as coisas rapidamente sem pensar antes: quando o cabeça não pensa, o corpo padece. Votamos sem pensar, ou votamos pensando pouco. E não vou tirar o meu da reta, não. Eu não votei em Bolsonaro, fiz campanha contra ele, mas não vou me ‘incluir fora dessa’.
Nós, brasileiros, precisamos aprender que todo ato tem uma consequência. Somos ainda uma nação infantil e agimos como crianças no G2 ou no G3, que quando contrariadas querem morder o amiguinho ou fazem birra, e ainda não perceberam que pegar o brinquedo do amiguinho faz com que o amiguinho pegue o seu, também. O mandato Bolsonaro é uma excelente oportunidade para isso.
O governo de Bolsonaro é ruim. O impeachment de Bolsonaro também é ruim.