01/11/22 em Para ler

Cem dias de não-sei-o-quê – 2

O presidente Jair Bolsonaro completou 100 dias de governo. Entre tudo o que se viu e que  se publicou, me parece que ele tem apenas um propósito governamental: destruir o que existia no Ministério da Educação e construir outra coisa. Essa coisa é uma fumaça denominada anti-marxismo, contra-Paulo Freire, pelo-fim-do-globalismo ou caça-aos-comunistas-que-por-aí-estão. Nisto, o presidente está fortemente empenhado. Acabou de trocar um ministro inoperante por um turbinado. Nesta tarefa, Bolsonaro não vai brincar, nem fazer piadas, nem perder tempo. Todo o resto, ele deixará com os postos ipirangas que nomeou pra preencher o quadro ministerial. Todo o resto não importa. O que importa é o que sempre importou aos militares brasileiros: estar no poder e afastar a ameaça comunista que só eles enxergam. Todo comunista fala em conquistar os corações e mentes do povo para tomar o poder e fazer um governo popular, mas o povo brasileiro não dá a menor pelota aos comunistas, porque o povo não tomar o poder, o povo quer consumir, como bem mostrou o último governo “comunista” que tivemos, o de Lula, incentivador do consumo interno a tal ponto que criou um fenômeno consumista chamado de ‘Nova Classe C’.

Copio Celso Rocha de Barros*: “Um país não elege Jair Bolsonaro sem azar. Crise econômica, crise moral, erros dos adversários, fraudes e manipulações, loucura coletiva e burrice, com tudo isso somado você elege, no máximo, um Jânio Quadros. Bolsonaro é outra história. Para eleger Bolsonaro, você precisa dar azar, e não pode ser só uma vez.”

E não escrevo mais sobre o presidente.

Um história de dois azares e um impeachment, in Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje, Companhia das Letras, São Paulo, 2019.

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