01/12/22 em Para ler
Abbey Road, 50.
O último disco gravado pelo Beatles completou 50 anos em 2019. De 22 de fevereiro a 20 agosto de 1969 os Beatles gravaram o disco no estúdio e em 26 de setembro as lojas o receberam em suas prateleiras.
Eu conheci e ouvi atentamente o Abbey Road já na época do CD, quando comprei o meu. Cresci ouvindo discos dos meus pais e ao longo da vida comprei poucos discos. Passei a comprar discos depois dos meus 20anos, quando não morava mais na casa deles e os LP’s foram substituídos pelos CD’s.
No armário de discos dos meus pais, não havia nenhum disco original de estúdio dos Beatles, e eu passei quase toda a minha adolescência ouvindo uma coletânea famosa, 20 Greatest Hits, montada com as músicas que chegaram ao número 1 das paradas de sucesso inglesas. Estão lá os iê-iê-iês meio chatinhos, embora emblemáticos, She loves you, From me to you, I wanna hold your hand e Can’t buy me love. E estão também as sensacionais Help, We can work it out, Eleanor Rigby, All you need is love, Hello, goodbye, Get back e, inescapavalmente, Hey Jude.
A única canção de Abbey Road que entrou nesta coletânea foi a faixa 1 do lado A, Come Together, que dispensa maiores elaborações, mas vale dizer que nasceu como jingle de campanha eleitoral!
E considerando que antigamente os discos tinham lados A e B nos discos, enquanto o A traz canções destinadas ao sucesso, o B traz uma unidade que, para mim, é ao mesmo tempo estranha e coerente. As músicas se emendam, uma entra na outra, de um modo que nem sempre combina mas sempre funciona. Olhando do presente para o passado, as últimas canções parecem ser o ponto final que o autor coloca no romance e fecha o livro. É a quintessência da manjadíssima figura de linguagem do canto do cisne.
Este o disco traz a expressividade da tormenta pela qual a banda passava e que está fartamente descrita nas biografias disponíveis on e offline, nas livrarias e na internet, com todas as teorias conspiratórias, paranóias, teses alopradas e lendas urbanas que foram sendo criadas e alimentadas pelos fãs e detratores dos Beatles.
Por fim, Abbey Road é o disco que nos presenteia com as preciosas Something e Here comes the sun, que colocaram George Harrison no pódio de compositor que ocultamente sempre lhe estivera reservado, afinal Lennon-McCartney é a montanha mais íngreme que um compositor de música popular se proponha a escalar.
Pensar nos 50 anos deste disco e levar em conta como ele entrou em minha vida, como eu pude ouvi-lo, aprender a gostar dele, tentar identificar o que ele traz do passado da banda e o que projeta para o futuro dos músicos me faz pensar no cardápio musical que ofereço às minhas filhas. Há um esforço consciente de minha parte para mostrar o que existe de música popular disponível, principalmente a brasileira, e, claro, o que eu gostei, afinal ouvir música sem um recorte de gosto pessoal é só para quem trabalha com música – e não é o meu caso. E mostrar sem doutrinar, que é difícil, bem difícil. Deixando a modéstia de lado, até o momento me considero razoavelmente bem sucedido nesta tarefa.
Abbey Road é O disco dos Beatles para mim. Como disse acima, ele foi descoberto no começo da minha vida adulta e por isso pode ser degustado com calma, atenção e intensidade, permitindo identificar todos os ingredientes e sabores que estavam presentes na papinha musical com que meus pais me alimentaram na infância.
Obrigado, pai e mãe.
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Em tempo: neste artigo brevíssimo, Guilherme Maximiano, que é o meu amigo Guima, explica bem tudo que o foi acima.
Vale a leitura: https://www.maximamusica.com.br/blog/a-playlist-da-sua-vida