01/14/22 em Para ler

A Cor do Preconceito

Ficção fundamentada na mais pura realidade.

É assim que Carmen Lucia Campos classifica o seu livro A Cor do Preconceito. A Carmen é uma das autoras, é dela um dos três pares de mãos que compuseram esse livro. Os outros são de Sueli Carneiro, antropóloga, pesquisadora e diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, e de Vera Vilhena, historiadora, pesquisadora, e professora. 

Esse livro é de 2007 e é, obviamente, atualíssimo neste ano que ficará marcado não só pela pandemia provocada pelo novo coronavírus mas também por novos capítulos na luta dos negros pelo reconhecimento do seu valor. Houve o crescimento do movimento Black Lives Matter, que nasceu nos EUA em 2013 e ganhou o mundo agora. E no Brasil, aconteceram as manifestações pelo assassinato de João Alberto Freitas numa loja do Carrefour – esse que foi mais um dos cerca de 63 por dia. Sessenta e três negros são assassinados por dia no Brasil. Sessenta e três jovens com idade entre 15 e 19 anos, pretos ou pardos, são assassinatos por dia, no Brasil…

E falando só de Brasil, e trazendo o foco para o mundo dos livros, esse 2020 começou ainda em 2019 quando a Faculdade Zumbi dos Palmares começou a divulgar uma foto do nosso maior escritor, Machado de Assis, num tom mais real do que o embranquecimento que lhe foi impingido por nós, brancos. Foi a campanha “Machado de Assis Real”. 

 Ainda no campo dos livros, eu posso reafirmar que esse 2020 começou em 2019 quando foram lançados dois romances sensacionais sobre o racismo e a situação dos negros no país, “Marrom e Amarelo” e “Torto Arado”, que passaram os últimos meses disputando todos os nossos prêmios literários. E esse 2020 continuará em 2021, com a promessa de reedições dos livros de Carolina Maria de Jesus. 

A Cor do Preconceito estava na lista de livros que a escola das minhas filhas pediu para este ano, como leitura do 5º. ano do ensino fundamental. Depois que a minha filha leu, eu fiquei curioso para ler e li também. 

O livro conta a história de Mira, uma menina que está acabando o nono ano do fundamental numa escola da periferia de uma cidade grande e ganha uma bolsa para cursar o ensino médio num colégio de elite desta cidade. A cidade e os bairros não são nomeados. A escola que ela estudava sim, e a nova também, e já aí o leitor vai percebendo que nada é gratuito nesta história. Por exemplo, a escola que Mira estudava se chama Cruz e Souza, um poeta negro de Santa Catarina, precursor do movimento simbolista na literatura brasileira. 

Como eu falei na abertura do vídeo, a realidade jorra no drama dessa personagem: as longas esperas por condução, as tranças do cabelo, o desemprego e o alcoolismo na família, a interrupção dos estudos por seus pais, a exigência de se cortas um cabelo rastafári, o preconceito exercido pelos brancos, a constante sensação de que as coisas boas não são direitos de todos. 

O livro conta esse breve momento da vida de Mira praticamente um semestre letivo. Mas o quanto a vida dela muda neste semestre!

E, humildemente, esperançosamente, eu espero que a vida de uma criança próxima de você também mude, um pouco que seja, depois da leitura deste livro. 

Que 2021 chegue e traga melhores ventos, melhores ares.

Que 2021 não seja uma mera mudança de calendário.

Que 2021 seja um tempo de apontar o nariz do Brasil para um rumo melhor.


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A cor do preconceito

Carmen Lucia Campos, Vera Vilhena de Toledo, Sueli Carneiro

Editora Ática Infantil, Coleção Jovem Cidadão, 2007

136 páginas

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