01/11/22 em Para ler
Um ministro de gelo sob o sol do cerrado
Apesar de os políticos dizerem que não creditam em pesquisas, todos eles vivem correndo atrás das institutos de pesquisa para saberem o que pensam as ruas. Tendo trabalhado por quase 25 anos fazendo pesquisa de opinião pública e de mercado, aprendi que na verdade, perdoem-me a arrogância, quando uma pessoa afirma não creditar em pesquisa, o que ela está querendo dizer, mas não sabe elaborar, é que ela não entende o que é uma pesquisa – é realmente difícil acreditar naquilo que não se entende, exceto acreditar em um deus.
Digo isso para abordar os resultados que saíram na semana passada, mostrando queda da aprovação de Bolsonaro e manutenção da aprovação de Moro. Moro é, ainda, o guardião do combate à corrupção, é isso o que a pesquisa mostra. O brasileiro é ignorante e tem baixa educação formal, e geralmente a educação formal, quando está presente na vida do cidadão, é fraca, com pouco senso crítico. Mas o brasileiro não é bobo e sabe muito bem o que é corrupção e o quanto ela está presente nas instituições, todas elas, de alto a baixo, de esquerda a direita, de dentro para fora e de fora para dentro. O brasileiro sabe o que a corrupção tira dele quando ele encara uma fila no posto de saúde, quando ele pega um caminhão disfarçado de ônibus que sacoleja em ruas mal conservadas, quando ele chega para uma aula numa sala estropiada. Ou quando assiste um telejornal.
Agindo bem ou mal, na lei ou ao seu arrepio, Moro fez o que ninguém antes na história deste país fez: botou na cadeia uma dúzia de empreiteiros que sempre falaram grosso, outro tanto de políticos graduados e importantes que sempre riram na cara da justiça e, máximo das máximas, um ex-presidente altamente popular.
Moro saiu da Justiça Federal para ao Ministério da Justiça. Deixou um posto vitalício onde mandava e os outros obedeciam e abraçou um posto temporário onde precisa negociar com a turma que ele estava mandando prender. Moro viu claramente a porta de entrada mas se esqueceu de olhar, antes de entrar, por onde ele sairia.
Sua primeira ação como ministro foi o envio de um pacote com medidas anti-crime para o Congresso que, efetivamente, não deu em nada. Moro, como ministro, é um ilustre ineficiente. Tem o apoio da galera na arquibancada, mas entrou em campo num jogo em que o técnico montou uma tática em que a bola não chega para o centroavante.
Ontem, no desfile de Sete de Setembro, o Presidente quebrou o protocolo e andou abraçado ao seu Ministro. Quando a imagem precisa ser muito forte, para fazer os outros acreditarem que tudo está bem, ela mostra exatamente o contrário.
Ao longo do governo Temer, a Lava Jato ainda se sustentou, mesmo com o governo fazendo o possível, “com o Supremo, com tudo”, para acabar com ela. Ao sair da Justiça Federal, Moro ajudou a acabar com a força da Lava Jato, certamente sem querer. Depois, com os vazamentos das mensagens entre Moro e os procuradores, a Lava Jato acabou. Assim que esses vazamentos aconteceram, a primeira coisa que eu pensei não foi em quem ganharia com o fim da operação, mas em quem lucraria com o derretimento de Moro.
Pra mim, só ganham, de fato, com a fraqueza de Moro, os potenciais candidatos a presidente em 2022.