01/11/22 em Para ler
Os Vices se enganaram
O artigo que o Vice-Presidente da República, o General Mourão, publicou no Estadão no dia 28/8/2019 teria me passado completamente despercebido se não fosse a reação de alguns ex-colegas que publicaram, em um grupo de WhatsApp do qual faço parte, um email escrito pelo Vice-Presidente da FGV recomendando a sua leitura. Alguns de meus ex-colegas (ex porque não faço mais parte do curso em questão) ficaram muito incomodados com a atitude do Vice-Presidente da FGV, considerando-a no mínimo uma intromissão.
Aí eu fui ler o artigo do Vice-Presidente da República – é muito Vice nesse bololô – e fiquei muito intrigado. Não sei a qual governo pertence o atual Vice – o da República, não o da FGV. Li e reli o trecho abaixo:
“Não há país que combine legislação ambiental, produtividade agropecuária, segurança alimentar e preservação dos biomas com mais eficiência, eficácia e efetividade do que o Brasil. Não bastassem todos os dados legais e científicos, sobejamente conhecidos, que comprovam essa assertiva, tomem-se não as palavras, mas os atos do governo brasileiro no sentido de combater queimadas e apurar crimes de toda natureza praticados na Região Amazônica.”
Como o artigo escrito pelo Vice-Presidente da República, por um minuto achei que o artigo havia sido soprado pelo espírito de José de Alencar, Vice-Presidente num período em que o Ministério do Meio Ambiente era conduzido por Marina Silva e havia fiscalização e diminuição de desflorestamento; num período em que o agronegócio batia todos os recordes de produção, exportação e geração de divisas em dólar, mesmo resmungando que o ‘governo não deixava trabalhar’; num período em que se aumentava o número de alunos no ensino superior, o número de universidades federais e a verba para os institutos de fomento de pesquisa.
Lembrei que o Vice (o da República) é militar e começou sua carreira na Força em 1975, justamente no período que antecedeu as primeiras ações dos governos brasileiros na defesa do meio ambiente através de uma Secretaria especial, que depois seria transformada em Ministério, rebaixada a Secretaria e novamente promovida a Ministério. Talvez por isso o General Mourão tenha ainda a imagem de “eficiência, eficácia e efetividade” onde o que há hoje é justamente o contrário.
Mas o mais difícil de entender nesse artigo que o Vice-Presidente – o da República – escreveu foi a parte em que ele cita os “dados legais e científicos, sobejamente conhecidos, que comprovam essa assertiva“. Será que ele se refere àqueles dados do INPE que foram esculhambados pelo Presidente, seu chefe?
Ora, ora, alguém tem que dar jeito nessa balbúrdia, parece que os Vices se enganaram – o da República e o da FGV também.